A Síndrome do Cólon Irritável (SII), também conhecida como síndrome do intestino irritável, é uma das condições gastrointestinais mais comuns que afetam os portugueses. Esta perturbação funcional do sistema digestivo atinge aproximadamente 1 milhão de pessoas em Portugal, representando cerca de 10% da população. Apesar de não causar danos permanentes ao intestino, pode ter um impacto significativo na qualidade de vida dos doentes.
A síndrome do cólon irritável é um distúrbio funcional gastrointestinal crónico que se caracteriza pela presença de dor abdominal recorrente associada a alterações nos hábitos intestinais. Ao contrário de outras doenças intestinais, não existe uma causa física identificável, ou seja, não há lesões visíveis no intestino, mas o seu funcionamento está alterado.
Esta condição manifesta-se através de uma combinação complexa de sintomas que podem variar significativamente de pessoa para pessoa, alternando períodos de melhoria com fases de agravamento.
Os sintomas da síndrome do cólon irritável podem ser agrupados em diferentes categorias:
Dor ou desconforto abdominal - geralmente localizada na parte inferior do abdómen (o doente diz que tem dor no "fundo da barriga");
Alterações dos hábitos intestinais - diarreia, obstipação ou alternância entre ambos;
Distensão abdominal e gases - sensação de barriga inchada;
Melhoria da dor após defecar - característica muito típica da síndrome;
Fezes com muco esbranquiçado (sinal de inflamação);
Sensação de esvaziamento incompleto após evacuar;
Urgência para evacuar;
Alterações na consistência das fezes.
Os sintomas podem ser desencadeados por factores específicos como stress emocional, ingestão de determinados alimentos, mudanças hormonais ou alterações na rotina diária.
A síndrome do cólon irritável apresenta uma prevalência significativa na população portuguesa, com características epidemiológicas bem definidas:
Prevalência geral: Aproximadamente 10% da população portuguesa;
Género: Afecta mais mulheres (14%) do que homens (9%);
Idade: Mais comum em adultos jovens, especialmente antes dos 50 anos;
Primeira consulta: Geralmente ocorre entre os 30-50 anos.
Género feminino - risco quase duas vezes superior;
Idade jovem - maior incidência antes dos 50 anos;
Factores psicológicos - ansiedade, depressão, stress;
Infecções gastrointestinais prévias - podem desencadear a síndrome;
Antecedentes familiares - possível componente genético.
Na farmácia, existem várias opções que podem ajudar a aliviar os sintomas da síndrome do cólon irritável. Cada vez mais sugem soluções pelas quais podemos optar para conduzir a uma melhoria de vida nos doentes que sofrem com toda a sintomatologia desta síndrome.
O Duspatal Retard (mebeverina 200mg) é o principal antiespasmódico disponível sem receita médica. Este medicamento atua relaxando a musculatura intestinal, aliviando cólicas e dor abdominal.
Neste caso, o seu uso ou recomendação deve sempre ser orientado por um profissional de saúde.
Os silicones, nomeadameente o simeticone (Aero-OM), é o fármaco de eleição para o alívio dos gases intestinais.
Mecanismo: Rompem as bolhas de gás, facilitando a sua eliminação;
São relativamente seguros em qualquer idade;
Mais uma vez, devem ser utilizados mediante indicação do profissional de saúde.
Os probióticos têm mostrado muitos benefícios na síndrome do cólon irritável.
O Alflorex - contém Bifidobacterium longum 35624®, foi especificamente estudado para SII. Esta estirpe é considerada melhor que outras porque tem provas científicas que mostra que ajuda a reduzir sintomas como dor, inchaço e alterações do trânsito intestinal. Além disso, chega viva ao intestino, forma uma camada protetora e é naturalmente bem aceite pelo organismo, sendo o probiótico mais recomendado pelos médicos para quem tem este problema. Por isso, o Alflorex destaca-se dos outros probióticos existentes para o alívio dos sintomas desta síndrome.
Reduz sintomas como inchaço, gases, dor abdominal e alterações intestinais;
Posologia: 1 cápsula por dia, durante 2-4 semanas;
Melhoria inicial esperada em 1-2 semanas.
O Plantago ovata (psyllium), como exemplo temos o Psyllogel, é uma fibra solúvel altamente eficaz. No intestino, o psyllium absorve água e forma um gel suave que facilita o trânsito das fezes, tornando-as mais macias e fáceis de eliminar. Além disso, contribui para o equilíbrio da flora intestinal, ajudando a regular o funcionamento do intestino sem provocar irritação. Por isso, o psyllium é recomendado para melhorar a regularidade e aliviar sintomas como dor abdominal e desconforto provocados pela SII. Portanto:
Melhora tanto a obstipação como os episódios de diarreia;
Aumenta o volume fecal e melhora a consistência;
Posologia: 1-2 colheres por dia com água (copo cheio).
O Colilen IBS é um dispositivo médico com ActiMucin, que é um complexo vegetal, que forma uma película protetora sobre a mucosa intestinal, reduzindo o contacto com substâncias irritantes. Assim, protege o intestino, aliviando o desconforto e ajudando a restaurar o equilíbrio. O Colilen IBS não altera o funcionamento fisiológico do organismo e pode ser usado de forma prolongada para ajudar quem sofre com os sintomas da SII.
Forma uma película protetora na mucosa intestinal;
Posologia: 2 cápsulas, 3 vezes por dia, antes das refeições;
Tratamento recomendado: 2-6 semanas.
O tratamento da síndrome do cólon irritável beneficia bastante de abordagens não medicamentosas:
Esta dieta tem evidência científica sólida (Nível A) e envolve a redução temporária de açúcares fermentáveis. Os FODMAPs são osmóticos, ou seja, “puxam” água para dentro do tubo digestivo e alguns deles são mal ou não absorvidos pelo nosso tubo digestivo e assim podem ser fermentados pelas bactérias intestinais, quando ingeridos em “excesso”.
Grupo Alimentar |
🟢 PODE COMER |
🔴 DEVE LIMITAR |
Carne/Peixe/Ovos |
Carne de vaca, frango, atum em lata, ovos, clara de ovo, peixe, borrego, porco, marisco, peru |
Alimentos processados com fruta ou molhos com elevado teor de FODMAPs |
Lacticínios |
Leite/iogurtes/queijo sem lactose, pequena quantidade de queijo-creme, queijos "duros" (Cheddar, parmesão e suíço/emmental), mozarela e sorvetes |
Leitelho, chocolate, gelados, queijos moles, leite (de vaca, cabra ou ovelha), leite condensado, leite evaporado, queijos "moles" (Brie, ricotta), natas, chantilly e iogurte |
Alternativas aos lacticínios/Carnes |
Leite de amêndoa ou arroz; sementes (girassol, chia, goji), linhaça, quinoa |
Leite de coco, feijões, húmus, pistáchos, lentilhas, produtos com soja |
Cereais |
Cereais/farinha sem trigo (os sem glúten são habitualmente sem trigo); pães sem trigo, cereais de pequeno-almoço sem glúten/trigo, noodles, quinoa, panquecas, arroz, tapioca, tortilhas, waffles |
Cereais com trigo, farinha de trigo |
Frutas |
Bananas, melão, frutos vermelhos, uvas, toranja, kiwi, limão, lima, tangerinas, laranjas, maracujá, ananás, ruibarbo |
Pêra-abacate, maçãs, tâmaras, nectarinas, cerejas, fruta enlatada, manga, lichia, damasco, papaia, ameixas, melancia |
Vegetais |
Rebentos de bambu, pimentos, bok choy, pepinos, cenouras, aipo, milho, berinjela, alface, abóbora, batata, tomates, courgette |
Alcachofras, espargos, beterraba, alho-francês, couve-flor, couves-de-Bruxelas, funcho, feijão verde, cogumelos, ervilhas |
Sobremesas |
Qualquer uma efetuada com os alimentos "permitidos" |
Qualquer uma efetuada com alimentos com elevado teor de FODMAPs |
Bebidas |
Sumos de fruta com baixo teor de FODMAP (meio copo de cada vez), café, chá (pequenas quantidades) |
Qualquer uma efetuada com alimentos com elevado teor de FODMAPs, vinhos generosos |
Condimentos |
A maioria das especiarias e ervas aromáticas; caldos caseiros, manteiga, chalotas, alho em pó, cebola em pó, azeite, margarina, maionese, pimenta, sal, mostarda, molho de soja, vinagre normal e balsâmico |
Chutney, coco, alho, cebola, doces/compotas, mel, pickles, adoçantes artificiais |
A gestão da alimentação baixa em FOODMAPs deve ser ideialmente acompanhado por um nutricionista, pois na fase inicial pode existir uma alteração significativa na dieta do doente, com eliminação de alimentos não recomendados (4–6 semanas) e reintrodução gradual, conforme tolerância.
Refeições regulares: De 3 em 3 horas, em pequenas quantidades;
Mastigação adequada: 20-30 vezes cada garfada;
Hidratação: 1,5-3 litros por dia, preferencialmente entre refeições;
Evitar alimentos “gatilhos”: Café, álcool, alimentos picantes e muito gordurosos.
O stress é um dos principais desencadeadores dos sintomas da SII:
Meditação e Mindfulness: 10-20 minutos diários; Se não tiver forma de contactar um terapeuta, pode começar com apps como Calm ou Headspace;
Respiração diafragmática: Técnica 4-7-8 (inspirar 4 seg, reter 7 seg, expirar 8 seg);
Relaxamento muscular progressivo: Liberta tensão acumulada no corpo.
A terapia cognitivo-comportamental é a abordagem psicoterapêutica mais eficaz para a SII.
Ajuda a desenvolver estratégias para lidar com stress e ansiedade;
Reduz o impacto dos fatores psicológicos nos sintomas gastrointestinais.
A atividade física tem múltiplos benefícios comprovados na síndrome do cólon irritável:
Melhora a motilidade intestinal - facilita o trânsito e reduz obstipação;
Reduz dor abdominal - através da libertação de endorfinas;
Alivia ansiedade e stress - libertação de serotonina;
Reduz inflamação - efeito anti-inflamatório sistémico.
Caminhada: 30 minutos, 3-5 vezes por semana;
Yoga: Combina exercício físico com relaxamento mental;
Natação e ciclismo: Exercício aeróbico de baixo impacto;
Exercícios suaves: Evitar atividade muito intensa inicialmente.
Como já mencionado acima, a rotina é essencial para a harmonia de todos os fatores que interferem no SII.
Horários regulares: Manter rotinas consistentes para refeições e sono;
Gestão do tempo: Evitar sobrecarga de trabalho e compromissos;
Actividades de lazer: Incluir tempo para relaxamento e hobbies;
Suporte social: Manter contacto com família e amigos.
Embora muitos sintomas da síndrome do cólon irritável possam ser geridos com medidas não farmacológicas e medicamentos de venda livre, é importante consultar um médico nas seguintes situações:
Perda de peso inexplicada;
Sangue nas fezes;
Febre persistente;
Dor abdominal intensa que não melhora;
Sintomas que interferem significativamente com atividades diárias;
Início súbito dos sintomas após os 50 anos.
O diagnóstico é clínico, baseado nos critérios de Roma IV: dor abdominal ≥1 dia/semana nos últimos 3 meses, associada a evacuações e a alterações de frequência ou consistência das fezes. Exames complementares visam excluir colite, doença inflamatória intestinal e infecções. O diagnóstico da síndrome do cólon irritável deve excluir outras condições como doença inflamatória intestinal, doença celíaca, ou outras patologias.
Infelizmente, poucas pessoas com sintomas de SII procuram ajuda médica, mas o diagnóstico adequado é fundamental para o tratamento eficaz.
Por fim…
A síndrome do cólon irritável é uma condição complexa que afeta significativamente a qualidade de vida de 1 milhão de portugueses. Embora não tenha cura definitiva, existe uma ampla gama de opções terapêuticas que podem proporcionar alívio substancial dos sintomas.
O sucesso do tratamento assenta numa abordagem multimodal que combina:
Medicamentos não sujeitos a receita médica apropriados;
Modificações dietéticas personalizadas;
Gestão eficaz do stress e ansiedade;
Exercício físico regular;
Mudanças no estilo de vida.
A farmácia comunitária desempenha um papel fundamental no acompanhamento destes doentes, oferecendo não apenas medicamentos mas também aconselhamento sobre medidas não farmacológicas e orientação sobre quando procurar cuidados médicos especializados. Venha conversar connosco!
Débora Silva, Técnica de Farmácia