É uma doença de pele provocada por um parasita e caracterizada por prurido intenso. Saiba como se transmite a sarna humana e quais os sintomas a ter em atenção.
A sarna humana ou escabiose é uma infestação da superfície da pele causada por um ácaro especifico da pele humana: Sarcoptes scabiei, que causa uma reação alérgica caracterizada por borbulhas e, principalmente, prurido intenso especialmente à noite.
Fig 1: Sarcoptes scabiei e ciclo de vida. A fêmea escava um túnel na pele, onde deposita os seus ovos, provocando a reação alérgica caracteristica, e os ácaros jovens (larvas) eclodem em poucos dias.
A transmissão ocorre por contacto direto e prolongado com uma pessoa infetada, e o diagnóstico e tratamento devem ser feitos por um médico.
Fig 2: Sarcoptes scabiei (microscópio), parasita e ovos
Transmite-se através de contacto físico prolongado com uma pessoa infetada, sendo comum em ambientes com aglomeração de pessoas ou agregados familiares e por contacto sexual. Pode, mais raramente, surgir em contactos curtos como quando se dá a mão ou se cumprimenta alguém infestado.
Pode ser transmitida pelo contacto com objetos usados por uma pessoa infetada, como roupas de cama e toalhas, embora os ácaros não sobrevivam muito tempo longe do corpo humano.
O principal fator de risco são as condições de aglomeração (como em escolas, lares, abrigos, quartéis e alguns domicílios). A sarna não está relacionada com a má higiene.
Nota importante: Existem acaríases de animais que podem provocar alguma comichão nos humanos, mas não há transmissão de animais para pessoas e os ácaros não sobrevivem na pele humana.
O principal sintoma da sarna é o prurido muito intenso e predominantemente ao fim do dia e à noite, que interfere com o sono. O organismo reage aos ácaros que estão na superfície da pele e não sendo necessário uma quantidade significativa de parasitas, basta cinco a quinze no máximo.
Podem surgir erupções em zonas sugestivas do corpo, sobretudo entre os dedos, nas mãos, axilas, seios, nádegas, genitais e abdómen, aparecendo primeiro nos espaços entre os dedos, pulsos, cotovelos internos, axilas, ao longo da linha da cintura ou nádegas. Por vezes são visíveis pequenos túneis ou linhas elevadas muito finas (galerias) que têm até 1 cm de comprimento e, em alguns casos, como uma pequena protuberância numa das extremidades, que correspondem a deslocação do ácaro na pele. Com o passar do tempo, pode ser difícil ver as galerias, visto que estas podem ficar ocultas devido à inflamação.
Nas crianças mais novas e nos bebés, podem surgir outras zonas, como a cabeça, principalmente atrás das orelhas, couro cabeludo e nas palmas das mãos plantas dos pés.
Em adultos mais velhos pode causar prurido intenso, mas com sintomas muito leves na pele, o que pode dificultar o diagnóstico.
Fig 3: Apresentação da sarna
A sarna crostosa ou norueguesa, a forma mais grave e rara de escabiose, corresponde a uma hiperinfestação por Sarcoptes scabie e atinge essencialmente pessoas com doenças que comprometem o sistema imunitário, como a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), patologias hematológicas como leucemias ou utilização crónica de corticosteroides ou outros medicamentos que suprimem o sistema imunológico, e também é comum nos aborígenes australianos.
As infecções graves provocam formação de grandes áreas de pele espessa e crostosa (principalmente nas palmas das mãos e plantas dos pés de adultos e no couro cabeludo de crianças) mas sem prurido.
Além das lesões de pele causadas pelo próprio parasita, o prurido em si acaba facilitando o aparecimento de outras lesões devido aos traumas infligidos na pele durante as tentativas de aliviar o prurido e pode ainda induzir uma resposta imune do hospedeiro contra os ácaros e seus produtos. A pele afectada pelo parasita e pelo trauma do prurido também podem ser portas de entrada para bactérias comensais da nossa pele e ao penetrar por estas portas podem causar infecções bacterianas secundárias das lesões.
Os sintomas, a apresentação e a localização das lesões cutâneas sugerem o diagnóstico de sarna humana ou escabiose, que é fundamentalmente clínico. Pode haver confusão com outras doenças dermatológicas, como as dermatites. Em caso de dúvida, podem ser recolhidas amostras por raspagem das lesões e realizada uma observação microscópica para confirmar a presença do parasita.
O tratamento é preferencialmente tópico com permetrina, benzoato de benzilo ou vaselina com enxofre. O tratamento tópico é feito habitualmente durante um a três dias consecutivos, repetindo-se passadas uma ou duas semanas, já que podem ocorrer a eclosão dos ovos depositados na pele.
Nas crianças pequenas, a permetrina deve ser aplicada na cabeça e no pescoço, evitando a pele em volta dos olhos e da boca, e no corpo todo. As dobras cutâneas, unhas das mãos e dos pés, e o umbigo devem ser tratados por completo. Crianças podem usar luvas grossas para evitar que coloquem permetrina na boca.
No caso dos recém-nascidos e lactentes com menos de dois meses, o enxofre precipitado (geralmente a 6-10%) pode ser a opção mais segura, aplicado durante alguns dias consecutivos.
Nas crianças maiores e adultos, deve-se aplicar um creme contendo permetrina ou loção de benzoato de benzilo no corpo todo, do pescoço para baixo, incluindo as solas dos pés, o qual deve ser lavado após 8 a 14 horas para remover o produto. Em pessoas calvas, também deve ser aplicado no couro cabeludo, testa, linha do penteado e têmporas. Deixar secar por 10 minutos antes de se vestir. Esse tratamento deve ser repetido após uma semana. Evitar contacto com os olhos.
O tratamento da escabiose na gravidez é feito com cremes tópicos, geralmente a permetrina, ou com enxofre, sendo a permetrina a primeira escolha por sua segurança e eficácia.
O tratamento mais eficaz é a ivermectina oral tomada em duas doses administradas com uma semana de intervalo. É utilizado em situações em que não se podem usar medicamentos tópicos ou não se beneficiam com eles, sendo útil sobretudo para infestações graves nas pessoas com um sistema imunológico enfraquecido.
Mesmo após o tratamento bem-sucedido matar os ácaros, o prurido e as pústulas podem persistir por até três semanas devido a uma reação alérgica contínua aos corpos do ácaro, que permanecem na pele durante algum tempo. O prurido pode ser tratadp com um creme corticosteroide de intensidade leve, anti-histamínicos tomados por via oral ou ambos. A irritação da pele e os arranhões profundos levam, ocasionalmente, à infecção bacteriana, que pode requerer o uso de antibióticos tomados via oral.
A sarna humana ou escabiose é contagiosa, transmitindo-se através do contacto direto com a pele de alguém que esteja infetado ou, menos frequentemente, pela partilha da mesma roupa ou da mesma cama, podendo, nestes casos, atingir famílias inteiras. É fundamental que todas as pessoas em contacto com o infetado (família, colegas de casa) recebam o tratamento, mesmo que ainda não apresentem sintomas.
As roupas de cama e vestuário devem ser lavados em água quente a 60ºC, e objetos como edredons e colchões devem ser aspirados ou expostos ao sol para ajudar a eliminar os ácaros. Secar ou guardar as peças não laváveis (como peluches) em sacos plásticos fechados durante pelo menos 72 horas para que os ácaros morram.
Para aliviar os sintomas da sarna, pode-se tomar um banho com chá de camomila, fazer uma massagem com azeite de oliva ou colocar uma compressa de arruda sobre a pele, já que possuem propriedades calmantes, hidratantes e anti-inflamatórias que ajudam a aliviar a coceira e a irritação da pele características dessa doença, mas os remédios caseiros não devem substituir o tratamento indicado pelo médico, devendo ser usado apenas para complementar e acelerar a recuperação.
Iolanda Lázaro, Farmacêutica Especialista em Análises Clínicas e Genética Humana