Os probióticos são microrganismos vivos, como bactérias benéficas, que ajudam a manter o equilíbrio da flora vaginal e intestinal, promovendo a saúde íntima da mulher. Eles são especialmente úteis para prevenir e tratar problemas como infecções vaginais, urinárias e desconfortos relacionados a mudanças hormonais ao longo da vida. Neste artigo iremos explicar como os probióticos beneficiam a sua saúde e quais são os mais indicados para cada fase da vida da mulher.
A vagina possui uma microbiota, ou seja, um conjunto de microrganismos, onde predominam os Lactobacillus. Essas bactérias produzem ácido lático, que mantém o pH vaginal ácido (entre 3,5 e 4,5), criando um ambiente que dificulta o crescimento de bactérias e fungos prejudiciais, como Candida albicans (causadora da candidíase) ou Gardnerella vaginalis (ligada à vaginose bacteriana). Além disso, os probióticos:
· Competem com microrganismos nocivos: Ocupam espaço e nutrientes, impedindo que bactérias ou fungos patogênicos se multipliquem.
· Produzem substâncias protetoras: Como peróxido de hidrogênio, que atua como um antibacteriano natural.
· Fortalecem a imunidade local: Estimulam o sistema imunológico da mucosa vaginal para combater infecções.
· Restauram o equilíbrio após desbalanços: Antibióticos, mudanças hormonais (como menstruação, gravidez ou menopausa) ou estresse podem reduzir os lactobacilos, e os probióticos ajudam a repô-los.
Os probióticos podem ser tomados por via oral (cápsulas ou alimentos fermentados, como iogurte e kefir) ou vaginal (supositórios ou cápsulas vaginais), dependendo do objetivo. Estudos mostram que ambos os métodos são eficazes para colonizar a vagina com bactérias benéficas.
A microbiota vaginal muda ao longo da vida devido a alterações hormonais, como puberdade, ciclo menstrual, gravidez, pós-parto e menopausa. Abaixo, detalhamos as estirpes de probióticos mais indicadas para cada fase, com base em evidências científicas.
Durante a idade reprodutiva, a microbiota vaginal é dominada por lactobacilos, mas fatores como antibióticos, stress, higiene inadequada ou relações sexuais podem causar desequilíbrios, levando a infecções como candidíase vulvovaginal ou vaginose bacteriana.
· Estirpes recomendadas:
o Lactobacillus crispatus: É altamente eficiente na produção de ácido lático, mantendo o pH vaginal ácido e prevenindo infecções. Estudos mostram que reduz a recorrência de candidíase em até 50%.
o Lactobacillus rhamnosus GR-1 e Lactobacillus reuteri RC-14: Essas estirpes são bem estudadas e eficazes na prevenção de infecções urinárias e vaginose bacteriana. Elas colonizam a vagina e o trato urinário, reduzindo o crescimento de bactérias como Escherichia coli.
o Lactobacillus acidophilus: Ajuda a equilibrar o pH vaginal e é comum em suplementos para saúde íntima.
o Lactobacillus gasseri e Lactobacillus jensenii: Contribuem para a saúde vaginal ao produzir ácido lático e inibir patógenos.
· Benefícios:
o Reduzem a recorrência de infecções vaginais e urinárias.
o Melhoram o conforto íntimo, diminuindo sintomas como coceira, corrimento anormal e odor.
o Podem ser usados após tratamentos com antibióticos para restaurar a flora vaginal.
Durante a gravidez, as alterações hormonais aumentam o risco de vaginose bacteriana, que pode estar associada a complicações como parto prematuro. No pós-parto, o uso de antibióticos (comum em cesarianas) pode desequilibrar a microbiota.
· Estirpes recomendadas:
o Lactobacillus rhamnosus HN001 e Lactobacillus acidophilus La-14: Essas estirpes, combinadas com lactoferrina bovina, ajudam a reduzir patógenos intestinais e vaginais, promovendo um ambiente saudável. Estudos mostram que essa combinação é eficaz na prevenção de vaginose bacteriana recorrente.
o Lactobacillus crispatus: Ajuda a manter o pH vaginal ácido, essencial para evitar infecções durante a gestação.
· Benefícios:
o Previnem infecções que podem afetar a saúde da mãe e do bebê.
o Restauram a microbiota após cesarianas ou uso de antibióticos.
o Melhoram a imunidade local, reduzindo riscos de complicações.
Na menopausa, a queda nos níveis de estrogênio reduz a quantidade de lactobacilos na vagina, aumentando o pH e o risco de infecções urinárias e vaginose. A suplementação com probióticos pode ajudar a restaurar o equilíbrio.
· Estirpes recomendadas:
o Lactobacillus rhamnosus e Lactobacillus reuteri: São eficazes na redução de infecções urinárias, que se tornam mais comuns na menopausa.
o Lactobacillus acidophilus e Lacticaseibacillus casei: Ajudam a manter a saúde vaginal e intestinal, apoiando a imunidade e o conforto íntimo.
o Bifidobacterium lactis: Melhora a saúde intestinal, que influencia a microbiota vaginal na menopausa.
· Benefícios:
o Reduzem o risco de infecções urinárias e vaginais.
o Aliviam sintomas como secura vaginal e desconforto.
o Contribuem para a saúde geral, incluindo a digestão e o sistema imunológico.
· Verifique as estirpes: Procure produtos que listem claramente as estirpes (ex.: Lactobacillus rhamnosus, Lactobacillus crispatus) e a quantidade de UFC (idealmente entre 1 e 10 bilhões por dose).
· Evite aditivos desnecessários: Prefira suplementos sem corantes ou aromas artificiais, que podem reduzir a eficácia.
· Combine com prebióticos: Alimentos como aveia, alho ou banana ajudam as bactérias benéficas a se multiplicarem.
· Consulte um profissional: Um médico ou farmacêutico pode indicar o melhor produto para suas necessidades, especialmente em casos de infecções recorrentes ou condições específicas como gravidez.
Abaixo, listamos alguns exemplos que contêm as estirpes mencionadas:
1 .GUT4 Mulher (Faes Farma Portugal):
· Estirpes: Contém o composto Lab4® (quatro espécies de probióticos) e Lactobacillus gasseri CUL09.
· Outros componentes: Extrato de arando vermelho (Pacran®), vitaminas B6 e C.
· Indicação: Equilíbrio da microbiota vaginal e urinária, especialmente para prevenir infecções urinárias.
· Dose: 1 a 2 cápsulas por dia, com 12,5 bilhões de UFC (Lab4®) e 2,5 milhões de UFC (L. gasseri).
2.Harmolya (Laboratórios Bailleul):
· Estirpes: Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus gasseri, Lacticaseibacillus casei e Lacticaseibacillus rhamnosus.
· Indicação: Restaura a flora vaginal após antibióticos ou para prevenir infecções recorrentes. Cada cápsula contém mais de 11 bilhões de UFC.
· Dose: 1 cápsula por dia, por 10 a 20 dias (ou mais, conforme orientação médica).
3. Lactoflora Protetor Íntimo
· Fórmula com Lactobacillus crispatus BID-1 e L. rhamnosus Lcr 35®, além de vitamina A — componentes que ajudam a manter o pH vaginal, reforçar a mucosa e apoiar o sistema imunitário.
· Indicado para desequilíbrios da flora vaginal, vaginose, candidíase e secura vaginal. Sem glúten, sem lactose e sem hormonas
· Manutenção: 1 cápsula/dia por 20 dias.
· Fase aguda: 2 cápsulas/dia por 10 dias, seguido de 1 cápsula/dia por 2–3 meses
4.Lactibiane CAND 10M (PiLeJe)
· Contém Lactobacillus gasseri LA806 e Lactobacillus helveticus LA401 candisis, totalizando 10 bilhões de UFC por cápsula
· Indicada para restabelecer a microbiota vaginal, especialmente em episódios de candidíase ou após antibióticos
· Usar 2 cápsulas/dia por 3 dias, depois 1 cápsula/dia conforme necessário
· Pode ser usada antes e durante antibióticos para reequilibrar a flora íntima
Embora os probióticos sejam promissores, alguns estudos apontam que a evidência para seu uso na prevenção e tratamento de candidíase vulvovaginal ainda não é conclusiva, sendo necessários mais ensaios clínicos de alta qualidade. No caso da vaginose bacteriana, a combinação de probióticos com antibióticos pode ser eficaz a curto prazo, mas os benefícios a longo prazo variam, dependendo da estirpe e da população estudada. Sempre consulte um profissional de saúde antes de iniciar a suplementação, especialmente se estiver grávida ou com condições médicas específicas.
Os probióticos, especialmente os Lactobacillus (crispatus, rhamnosus, reuteri, acidophilus e gasseri), são aliados importantes para a saúde íntima da mulher em todas as fases da vida. Eles ajudam a manter o equilíbrio da microbiota vaginal, prevenindo infecções e promovendo bem-estar. Mesmo assim, a sua toma deve passar sempre pelo aconselhamento de um profissional de saúde .
Além disso, pode incluir na sua dieta probióticos naturais através da ingestão de alimentos fermentados, como iogurte natural e assim complementar a sua suplementação.
Brígida Neves, Técnica de Farmácia